Clarices. Centro Cultural dos Correios. Rio de Janeiro RJ.

Clarice Lispector (1920-1977) é feita de estranhamentos epifanias. Não cabe rótulos, caixas, ainda que inutilmente tenham tentado enquadrá-la ora como intimista, psicologizada, ora como estrangeira, incompreensível.

Tão diferente, tão invulgar, tão única, que Caetano Veloso teve medo de enlouquecer quando leu a primeira vez, traduzindo seu espanto uma bela canção sobre o seu mistério.

Escritora, Clarice expõe vísceras, empurra limites e busca, encurralada, escarafunchada, negaceia, escancara com seus olhos de primeira vez, dessacralizando modelos estabelecidos, e quer porque quer saber da "Coisa", o que há por trás de existir, quem somos, de onde viemos, para onde vamos e afinal para que tantas máscaras?

Clarice é muito mais de perguntas que de respostas. Pasmos e espasmos. Consegue passar de estados de suprema e evação espiritual e revelações extraordinárias sobre coisas ordinárias a tediosos quefazeres cotidianos e impiedosas delações das piores qualidades das pessoas.

Como artista desta exposição e retratista confessa, pintei mais de 30 retratos de Clarice, na esperança de apreendê-la em seus diversos papeis: ucraniana, refugiada, judia, jornalista, ativista, advogada, escritora, cronista, esposa de diplomata, mãe, nordestina, tutora do cão Ulisses.

Feito Clarice, eu também tenho paixão por buscar o avesso, a verdade, revirar tripas, sem ligar para feiuras e nem bonitezas, totalmente imunes ao medo do que regurgita da lida da arte.

Graça Craidy - Artista Visual Gaúcha